sexta-feira, 2 de agosto de 2013

Desenvolvimento Histórico da Música


Antiguidade
O aperfeiçoamento da Música se mistura – às vezes até se confunde – com a evolução das raças e nações. Povos primitivos como os Maias, Incas, mongóis e núbios certamente desenvolveram seus próprios estilos musicais, com ritmos, cerimoniais e instrumentação variados. O problema – lamentável, diga-se de passagem – é que seus registros se perderam no tempo. Os vestígios remanescentes são insuficientes para permitir sua compreensão.
Por esta razão, a História da Música tem como ponto de partida a Grécia Antiga (por volta do ano 500 a.C.) e sua tradução para toda civilização ocidental. Os “Aedos”, como eram chamados os músicos da potestade grega, são responsáveis pelos documentos que fundamentaram o sistema musical moderno. O estilo predominante era a monódica, ou seja, uma única melodia cantada ou tocada.

Idade Média
A partir da Era Cristã, os romanos popularizaram a Música através da Igreja Católica, acoplando-a como ferramenta funcional da liturgia, fenômeno conhecido por Canto Gregoriano, em alusão ao papa Gregório I, o Magno (540-604), que foi o grande incentivador dessa união música-religião.
Ele próprio foi o criador de signos musicais, chamados neumas, que serviram de base para a notação moderna.
Na virada do primeiro Milênio, o monge beneditino Guido d´Arezzo criou um padrão de tom para cada nota que serviu de base para a altura da notação atual. Ele também desenvolveu o solfejo, um método de ensaio em que os cantores, ao invés de cantar uma letra de hino, cantassem uma sílaba pré-estabelecida. Nasceu daí a nomenclatura das notas (dó, ré, mi, fá, sol, lá, si e dó). Os nomes foram inspirados em sílabas em latim da primeira linha no hino “Ut queant Laxis”, dedicado a
São João Batista, cujo suposto autor é um diácono também italiano chamado “Paulo”.
Eis o trecho:
UT queant laxis REsonare fibris MIra gestorum FAmuli tuorum, SOLve polluti
LAbii reatum, Sancte Ioannes”
Também não sabe latim? A tradução é “Purificai bem-aventurado João, os nossos lábios poluídos, para podermos cantar dignamente as maravilhas que o Senhor realizou em ti”.
A sílaba UT foi mais tarde substituída por por soar melhor. Repare ainda que a nota SI aproveitou-se das iniciais dos dois últimos verbetes da frase do hino. Também dessa safra evolutiva ficaram consagradas algumas expressões em idioma italiano usadas para determinar ações especiais ao andamento (exemplo: Staccato, Pianíssimo, Crescendo, etc.).

A lenda do Dom Ré
Há uma lenda pela qual o criador da escala musical era um velho italiano sapateiro conhecido por Dom Ré que tinha por hobby tocar piano. O nome das notas estabelecido por ele surgiu da frase que mais costumava ouvir dos clientes da sua sapataria: “Dom Ré, me fá Sola”, cuja tradução é “Dom Ré, faça-me um sapato”.
Embora fosse o clero católico quem mais patrocinasse os profissionais da música e com isso, praticamente limitasse suas atribuições às cerimônias religiosas, nada impedia que mundo a fora surgisse movimentos independentes, titulados de profanos ou pagãos. Os trovadores franceses desenvolveram um folclore de jogral itinerante de grande sucesso regional, cantando coisas populares. Fato esse imitado por outros povos. Na Espanha, por exemplo, foi encontrada no Século XIII uma coleção de obras folclóricas chamadas Cantigas de Afonso X, o Sábio.
No século IX surgiu o organum, a infância da polifonia (harmonia, várias melodias ao mesmo tempo). Esse estilo mesclou a execução de uma ou mais vozes (cantadas ou instrumentadas), técnica conhecida por contraponto.
Um grande salto evolutivo se deu no Século XIV com o movimento ars nova (arte nova), cujos idealizadores voltaram-se à pesquisa por novas técnicas teóricas de escrita e estilização. Surgiu a isorritmia, o processo de metragem rítmica para organizar o tempo das melodias. O principal expoente dessa fase foi o francês Guillaume de Machaut (1300 – 1377), que além de ser compositor oficial da catedral de Notre Dame, Paris, compôs obras musicais e poéticas não-sacras. A estrutura musical predominante era na forma de uma voz principal (cantada ou instrumentada) mais adornada acompanhada por uma ou mais vozes secundárias de menos expressão.

Renascimento
Período que se destaca mais pela busca de registros e reformulação do que inovações. Durante o século XV todas as vozes (melodias) recebiam a mesma importância, sendo algumas delas com sequências melódicas, totalmente ou em trechos longos, idênticas diferenciadas apenas pelos timbres vocais (vozes graves e agudas).

Barroco
Marcado pela revolução dos músicos italianos em contrapartida aos franco-flamengos, o barroco (séculos XVI a XVIII) foi uma era de embelezamento e sofisticação nas obras, estilização e reclassificação das formas, além de também proporcionar grande evolução à Música em várias frentes, tais como:
• Integração a outras artes cujo resultado emblemático é a ópera, soma da literatura, teatro, música e dança. O gênero foi lapidado pelo compositor italiano Cláudio Monteverdi (1567 - 1643), autor das famosas peças Orfeo, favola in musica e Arianna.
• Novos estilos, como a consolidação do acompanhamento instrumental por uso de acordes.
• Aperfeiçoamento teórico, como a sistematização das tonalidades, pelo compositor e violinista italiano Arcângelo Corelli (1653 - 1713). O formato padrão atual já estava praticamente consolidado nesse período.
O mais influente artista desta época foi Antonio Vivaldi (1678 - 1741), compositor e violinista italiano de muitas obras, sendo as mais destacadas as que compõem a coleção “As Quatro Estações”. Nela, magnificamente, Vivaldi exprime pelos instrumentos (especialmente o violino, seu preferido) a representação sonora das diferenças climáticas da Natureza, metaforizando, por exemplo, a intensidade e velocidade do som ao calor do verão.
Fora da Itália, também outros grandes nomes deixaram grandes contribuições, tais como: o francês Jean Philippe Rameau (1683-1764), teórico eminente que além de obras musicais legou estudos escritos importantes, como o “Tratado da Harmonia” de 1722; e os alemães Heinrich Shüttz (1582-1672), autor de “Magnificat”; Georg Friedrich Händel (1685-1759), autor da famosa “Coro Aleluia”; e o gênio Johann Sebatian Bach (1685-1750), filho de uma dinastia de
músicos admirados. Simplesmente sublime nas composições e na execução do órgão, seu instrumento predileto. É o autor de “Jesus – A Alegria dos Homens”, eleita pelos críticos como a mais bela Música de todos os tempos. Também dignas de citação são: “Tocata e Fuga em Ré menor” e ”Glória in Excelsis Deo”.

Período Clássico
O século XVIII, período do classicismo, ficou marcado pela chamada escola de Viena (Áustria), com destaque especial para: Joseph Haydn, Mozart e Beethoven.
Joseph Haydn (1732 - 1809) foi um respeitado compositor na Áustria e toda a Europa, músico oficial da realeza Esterhazy. Abrangeu sua obra de forma heterogenia (sacra, profana, vocal, instrumental) com atenção particular ao resgate do folclore. Entre suas magníficas obras estão: “Sinfonia do Adeus (Sinfonia Nº 45)” (1772). e “A Criação” (1798).
O também austríaco Wolfgang Amadeus Mozart (1756 - 1791) teve vida abreviada e carreira de insucesso – cognominado “gênio indomável”. Mas os poucos anos foram de intensa genialidade e produção, cuja obra (algumas compostas ainda quando criança) só foi reconhecida à altura depois de sua morte.
Ludwig Van Beethoven (1770 - 1827) nasceu na Alemanha mas fez carreira na Áustria, onde estudou com Haydn e conheceu outros mestres como Mozart. Dotado de uma inesgotável capacidade desde a infância, ficou totalmente surdo aos 32 anos, conforme declarou numa carta intitulada “Testamento de Heiligenstadt”. Entretanto, isso não o impediu de compor grandes obras, como a excelente “5ª Sinfonia”, considerada uma das mais belas músicas clássicas. “Música se compõe e se ouve com a alma” – definiu, certa vez.
O estilo preponderante dessa fase foi o de abertura a transformações. Vários gêneros e subgêneros foram criados e aperfeiçoados. As peças mais vistosas eram as óperas, a sinfonia e os concertos. As composições eram cada vez mais longas, porém, com simplicidade de arranjos. Os trechos mais rebuscados e ou, mais avivados eram curtos – algumas vezes repetidos como refrões. A dramaticidade das obras assinalava que era crescente a intenção de dar mais conteúdo às obras que simples notas.

Romantismo
Seguindo a mesma tendência da literatura, a música do Século XIX obedeceu à moda do romantismo, em que o tema sentimento, a fantasia e a esperança de uma intensa alegria e felicidade sobrepuseram-se às coisas do mundo real, quase sempre ríspidas demais.
As peças salientes nesse período se inspiraram em textos literários, basicamente constituídos de dramas amorosos exuberantes, hinos patrióticos, dedicatórias pessoais e heroísmo naturalista.
Tudo isso sintetizado na ópera – justamente por ela ser o único gênero capaz de abarcar as mais importantes vias de demonstração artística. Essa função descritiva de acompanhar encenações em efeitos musicais foi intitulada de “música programática”, estabelecida nas obras do francês Hector Berlioz (1803-1869), autor da sinfonia “Romeu e Julieta” de Willian Shakespeare. Uma ramificação de êxito nesse tempo foi o balé, especialmente pelas obras de Piotr Ilitch Tchaikoviski (1840 - 1893), de quem nós destacamos “O lago dos Cisnes” e “A Bela Adormecida”.
Entre os mais consagrados músicos dessa escola estão: Georges Bizet (1830–1875), compositor francês autor da famosa ópera “Carmen”; Giuseppe Verdi (1813–1901), italiano que compôs a ópera “Aida”; Richard Wagner (1813-1883) compositor alemão que se dedicou aos textos sobre epopeias gregas e os dramas de Shakespeare.
Porém, fora a ópera, que era cada vez mais difundida e estilizada (com regras métricas específicas), os demais estilos se libertaram ainda mais das normas e limitações padronizadas. Um movimento paralelo importante de alguns músicos propôs-se a compor a chamada música pura, modelo instrumental e sem alusão a nenhum tema. Apenas música. Alguns exemplos notórios: Franz Schubert (1797-1828), compositor austríaco considerado precursor da música romântica, disseminou um modelo de obras curtas que chamamos de “canções”; o compositor e pianista alemão Carl Maria Von Weber (1786-1826) inovou em composições que destacavam instrumentos de sopro como o clarinete; e Félix Mendelssohn (1809-1847), cujo ápice de seu repertório é a popularíssima “Marcha Nupcial”.
O piano também ganhou mais notoriedade pelos artistas românticos. Tais como: Frédéric Chopin (1810-1849), polonês que além de respeitado compositor era um excepcional pianista, como se vê na coleção “Noturno”; o alemão Robert Schumann (1810-1856), autor de “Concerto para Piano em Lá menor”;
No alvorecer do modernismo, o “impressionismo” – estética artística para expressar sentimentos naturais e subjetivos – foi empregado na Música por compositores como os franceses Claude Debussy (1862-1918), que revolucionou ao utilizar em abundância notas da escala cromática, descaracterizando a tonalidade quase que completamente – tendência nomeada de “Cromatismo”; e o outro expoente dessa classe é Maurice Ravel (1875 - 1937), autor de “Bolero”.

Modernismo
A partir do século XX, a Música – bem como todas as artes – tomaram rumos tão complexos que já não seguiam basicamente a nenhum regimento especifico. O surgimento da fonografia (sistema de gravação e reprodução sonora) e do rádio popularizou a Música numa velocidade assustadora. O salto do disco de vinil para o DVD atual ilustra bem as transformações sofridas, especialmente pela evolução tecnológica dos aparelhos (instrumentos musicais e de recepção e
distribuição de som).
A disseminação da cultura pop americana foi um divisor de águas. Estilos como o jazz, Blues, e Rock in Roll ganharam o mundo e se entrelaçaram nas mídias (rádio, cinema, televisão, internet) e foram abraçados por outras culturas, na sua original e ou, em adaptações regionais. Os grandes festivais (como o de Woodstock e o Rock in Rio), os shows de megaprodução e a expansão dos videoclipes enriqueceram a indústria musical e abrangeram o trabalho técnico (sonoplastas, divulgadores, marqueteiros, animadores visuais, etc.).
A modernidade desbancou o regime erudito e redefiniu a acessibilidade para músicos e ouvintes. Os admiradores do gênero clássico lamentam o que classificam de baixeza do nível, da vulgaridade oriunda da comercialização e materialização do som através dos instrumentos eletrônicos. Em contrapartida, os modernistas vêem com bons olhos a diversidade e convívio harmônico.

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