quarta-feira, 7 de maio de 2014

Sobre bananas e Caymmi


Fosse este mundo um planeta um pouco mais evoluído, o assunto de maior repercussão na mídia internacional no mês de abril deste 2014 não teria sido "o caso da banana", em que o brasileiro Daniel Alves, jogador de futebol do clube Barcelona, foi alvo de uma bananada durante uma partida nos campos espanhóis (veja aqui um vídeo sobre o caso).


Fosse este país um pouco mais evoluído, esse mesmo mês de abril poderia ter sido ensejo para um assunto muito mais relevante: Música. E por quê? Entre outras razões, pela passagem do centenário de nascimento de um dos maiores artistas brasileiros: Dorival Caymmi (veja sua biografia na Wikipédia).


A dita fruta tropical tem sido usada como demonstração de racismo, preconceito contra pessoas da raça negra, em alusão aos macacos, já que o folclore corrente é que banana é a iguaria preferida desses animais.
A propósito, eu simplesmente adoro banana e  macaco ou não  eu sou um devorador diário da fruta.
Contudo, eu gostaria de falar mais sobre bananas e o compositor baiano.
É que o compositor baiano — certamente, outro bom apreciador dessa delícia natural — foi um dos artistas que soube muito bem unir banana e música para criar um papel especial àquela fruta, transformando-a num dos símbolos nacionais brasileiros no cenário mundial, de forma muito criativa, usando seu talento artístico, aliado ao esplendor vocal e visual de Carmem Miranda.
Para começar, peguemos a canção "O que É que a Baiana Tem", composta por Caymmi em 1939, que fez parte da trilha-sonora do filme "Banana da Terra", que foi um estouro internacional.


A partir daí, a banana, o seu doce e a sua simbologia foi associada à tradição brasileira, que, vertida para o contexto musical, passa a simbolizar toda a riqueza natural do Brasil e a fibra que tem nossa gente — mesclada com todas as raças do mundo —, de ginga, ritmo e raça, que, em geral, sabe ser brasileiro ao mesmo tempo que se agasalhar com qualquer gente, como bananas de um mesmo cacho.



Ah, Caymmi, ah, bananadas... Soubéssemos nós todos nos agasalharmos.
Dorival é um típico baiano, amante do vida, do mar, da praia, da rede, da música, do violão, das baianas, das bananas, das gentes...
Apesar de sua baianice bem configurada, sua jangada partiu para o mar, para além de Maracangalha, ganhou fama, chegou a Hollywood, coletou fãs respeitáveis em todas as nações.
Todavia, temos colhido certas bananas nada apreciáveis.
Quisera o público do futebol fosse o mesmo público das belas artes...
Instintivamente, Daniel Alves comeu a banana que lhe foi atirada com carga pejorativa e, como o próprio disse, lhe serviu de energia para ele seguir em frente no jogo, que sua equipe acabou vencendo por 3x2.
E dá-lhe banana!



Outro fenomenal músico que soube muito bem "comer banana" foi o paraibano Jackson do Pandeiro, onde ele mistura a arte brasileira com a cultura dos gringos com a composição "Chiclete com Banana".
Qual o recado dessa letra? A mistura amistosa dos diferentes, seja de raças, cores, sons e sabores.
A banana, países tropicais, samba tupiniquim, forró nordestino, chiclete, rock, Copacabana, Miami, etc., tudo junto e misturado mesmo num mesmo cacho.
E qual a origem da banana?
Uma das versões é que ela veio das arábias e esse nome é uma transliteração de uma expressão de lá "bañana", que significa "dedo", pelo fato de um cacho de banana se assemelhar a uma mão. Até nesse contexto, vemos a simbologia da diversidade, em que cada dedo de nossa mão é diferente um do outro, embora sejam todos da mesma raiz, também destacando que há diversas espécies de bananas.


Ficheiro:Banana caturra.JPG

Clique aqui e saiba mais sobre as riquezas nutritivas das bananas.

Que tudo isso seja oportunidade para as gentes mandarem uma banana para o preconceito e que, ao som de uma boa música, possamos todos nos nutrir da diversidade que este mundo nos oferece, estando todos — embora conservando as particularidades — juntos, unidos, como que todos sejam um.

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