terça-feira, 26 de maio de 2020

Os velhos e bons tempos de "Década Explosiva Romântica"


Hoje, ouvir música é a coisa mais fácil do mundo, bastando um dispositivo simples, como celular, tablet ou computador, acesso à internet e pouco esforço para procurar, baixar e curtir o título desejado. Mas há algumas décadas atrás a coisa era bem diferente. Primeiro que, não apenas os dispositivos eram caros, mas as mídias em si também. A coisa ficou barateada a partir das fitas K-7 (compact cassette tape), à base de fitas magnéticas, lançada oficialmente pela empresa holandesa Philips em 1963, mas que só vingou mesmo a partir da popularização dos aparelhos que, além de reproduzir, podiam gravar a partir de "fitas virgens" ou regravar (gravar por cima do áudio já registrado), isso lá para os anos 1980. As fitas foram gradativamente substituídas pelo CD (Compact Disc) na década de 1990.

Fita K-7 (Cassette Tape)

Antes desse "luxo barato", o que rolava mesmo era os discos de vinil, também conhecido como LP (de "Long Play"), criação do engenheiro húngaro naturalizado canadense Peter Carl Goldmark, funcionário da Columbia Records, oficialmente lançado em 1948.

LP reproduzido em uma radiola

Os discos eram muito caros, especialmente os internacionais, seja pelo custo de produção, seja pela exploração financeira das gravadoras e revendedoras. Chamados informalmente de "bolachão", com cerca de 30 cm de diâmetro, e capacidade para cerca de 30 minutos cada lado. Porém, não eram poucos os que diziam que o glamour mesmo dessa mídia estava nas capas e, eventualmente, nos encartes, com as letras das músicas e algumas vezes um pôster do artista (que os fãs costumavam pendurar na parede do quarto).

Então, como nem todo mundo podia se dar ao luxo de comprar os discos de todos os artistas, os mais procurados acabam sendo as coletâneas, os discos que reuniam os grandes sucessos do momento mesclando diversos intérpretes num só lançamento. As trilhas sonoras de novelas, por exemplo, eram sempre muito procurados.

E para driblar o custo das músicas estrangeiras, gravadoras nacionais tiveram uma ideia fantástica: juntavam músicas locais e regravavam os hits internacionais em um disco de coletânea. Assim, muitos desses discos acabaram se tornando clássicos. Dentre esses, destacamos aqui um grande sucesso de vendas dos anos 1970 e 80: Década Explosiva Romântica, talvez a mais cobiçada coletânea internacional lançado no Brasil em LP, de 1976, pelo gravadora ODEON. Ali constam canções antológicas, tais como: Bridge Over Troubled Water, de Simon & Garfunkel que também fez sucesso na voz de Elvis Presley; a lendária A Whiter Shade of Pale de Procol Harum, regravada por muitos outros grandes artistas mundiais; The House of the Rising Sun, o clássico dos The Animals, aqui na mesma faixa com Oh! Darling dos The Beatles; a tocante I Started a Joke dos Bee Gees, e, enfim, outras preciosidades, como veremos a seguir.

Capa e contracapa do LP Década Explosiva Romântica de 1976

A coisa funcionou assim: para produzir uma série de coletâneas em lugar dos gringos, a gravadora "inventou" um cover chamado "Década Explosiva Romântica", um cover anônimo, um artista fantasma, fake, ou de "mentirinha", para "iludir" o público, que pensava estar comprando num disco só Beatles, Elvis Presley, Elton John etc. E quem eram os músicos de Década Explosiva Romântica? Os The Fevers, uma banda já consagrada.

A moda pegou. Outras bandas como Os Carbonos e Roupa Nova caíram nas graças das gravadoras pela qualidade das "dublagens" dos artistas internacionais e assim várias séries de coletâneas vieram à lume, por exemplo, a "Festa de Sucessos" da Polygram, a "Superparada" da Som Livre e a "Superexplosão Mundial" da sid/Square.


Fake ou não, o fato é que o LP Década Explosiva Romântica de 1976 é uma pérola da História da Música no Brasil, pela qualidade das faixas. Inclusive, há quem diga que certas faixas suas são até melhores que as gravações originais. Particularmente, eu penso que todos os covers ficaram ótimos e especialmente as faixas 1 (Simon & Garfunkel que me perdoem) e 2 ficaram até melhores que os áudios genuínos.

Relação completa das faixas do LP:

Lado A:
1 - BRIDGE OVER TROUBLED WATER
2 - ROBERTA - IO CHE NON VIVO (SENZA TE)
3 - A WHITER SHADE OF PALE
4 - REFLECTIONS OF MY LIFE
5 - ROCK AND ROLL LULLABY

Labo B:
6 - YESTERDAY
7 - SKYLINE PIGEON
8 - OH ME OH MY
9 - MICHELLE
10 - OH! DARLING - THE HOUSE OF THE RISING SUN
11 - HE AIN'T HEAVY, HE'S MY BROTHER

E, para matar a saudade, vamos ao que mais interessa: tocar o som desta obra de arte musical.


Nenhum comentário:

Postar um comentário